quarta-feira, 1 de junho de 2016

A culpa é da vítima?


Foto Reprodução
A maioria ainda acredita que, “se a mulher soubesse se comportar melhor, haveria menos estupros”. Como reflexo, desenvolve-se uma sociedade que não sabe identificar o que é, de fato, uma violação, muitos não fazem ideia de que sexo sem consentimento ou forçado fazem parte da definição de violência sexual. Mais que isso: A maioria dos brasileiros acredita que o estupro é culpa da mulher, que mostra o corpo e não se comporta como deveria. São essas as conclusões de um estudo conduzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado em 2014.
É muita hipocrisia, as pessoas encherem a boca dizendo que roupa causa estupro. Porque então crianças são estupradas, se roupa comprida ou curta nelas não fazem diferença? São apenas crianças! Porque mulheres idosas são estupradas?
Para essa massa que apoia discursos que massacram as mulheres que saem sozinhas, mulheres que bebem tanto quanto homens, mulheres que escolherem como se vestirem, despirem ou decidem de alguma forma ser donas dos próprios corpos, roupas curtas não estupram! Horários não estupram! Lugares não estupram! Bebidas não estupram!
Estupradores estupram! O agressor é o culpado pela agressão. Isso não justifica estupros, nem qualquer tipo de violência, seja ela contra qualquer ser humano.
Vivemos em uma sociedade, que visivelmente apresenta comportamentos machistas e misóginos. São homens e mulheres, que carregam o mesmo conceito com passar dos séculos, e nele exercem tais condutas, na justificativa de que a mulher é antes de um ser humano, uma propriedade que precisa ser classificada como boa ou ruim; certa ou errada quando tenta ter a mesma liberdade que o sexo masculino tem. Infelizmente vivemos em uma sociedade que considera que tudo é um convite para a agressão ou abuso sexual, seja ele físico ou psicológico.
Não há exagero em afirmar que o país está convivendo com uma “cultura do estupro”, como afirmou a médica Nadine Gasman representante no Brasil da ONU Mulheres – entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero. "O Brasil revive, diariamente, uma cultura do estupro, do machismo. Vivemos numa sociedade machista”.
O caso da menor estuprada por mais de 30 homens no Rio de Janeiro, inclusive com a publicação de um vídeo com imagens do crime publicado na internet, causou comoção e revolta nas redes sociais e mais de 800 denúncias foram feitas no Ministério Público do Rio.
Além desse  caso muitos outros aconteceram e acontecem diariamente. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado em 2015, mulheres são violentadas a cada onze minutos no Brasil. E não esqueçamos que até o ano de 2009, o estupro era considerado crime contra a honra. E ainda hoje o estupro é um dos crimes menos notificados do Brasil. Cerca de 50 mil casos de estupro são registrados anualmente no país e estima-se que isso representa apenas 10% da quantidade dos casos. A pessoa que é violentada, a maioria das vezes, deixa de denunciar com medo de retaliações, com vergonha de se expor, e até mesmo com receio de serem culpadas ou tachadas pela violência sofrida.

E não vamos muito longe! Outro caso de repercussão aconteceu no município de Barreiras, Oeste da Bahia, onde uma jovem foi assaltada, sequestrada e estuprada em dois momentos. Em nota divulgada na imprensa local, a jovem revela sua identidade, narra os fatos e pede para que as pessoas respeitem a dor que ela e seus familiares sentem. De cabeça erguida o apelo dela é que a justiça seja feita. 

Essa é a minha vontade também jovem guerreira, corajosa. Muitos dos que sofreram abuso sexual mantêm o segredo por anos, por medo ou vergonha de buscar ajuda, e denunciar o agressor. Com você foi diferente! A sua denúncia evitou sim que esse criminoso praticasse mais crimes semelhantes, hoje ele se encontra a disposição da justiça.  E tenho certeza que apesar do sofrimento que sente no momento, você irá continuar de cabeça erguida, e que mais esta rasteira que você levou não vai tirar a vontade que você tem de viver!

Cheilla Gobi
Jornalista





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